FMI AUMENTA PARA 4,4% A PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO PARA ECONÔMIA BRASILEIRA EM 2007

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a soma de todas as riquezas do país, para 4,4% em 2007. A ampliação foi de 0,5 ponto percentual em relação à última previsão, feita em setembro pelo fundo. Para 2008, a previsão da pesquisa Panorama Econômico Mundial, divulgada hoje (11), é de crescimento de 4,2%. Antes, a previsão era de 3,9% também para o próximo ano. Assim, o Brasil pode aproximar-se em 2007 do desempenho de seus países vizinhos.

O fundo aponta que a política monetária brasileira tem sido mais flexível nos últimos 18 meses. "E com a inflação bem contida, parece haver espaço para que o ciclo de estabilidade continue. Ao mesmo tempo, as recentes medidas anunciadas para aumentar os investimentos e baixar a taxa de juros devem impulsionar a demanda local. E recentes dados sugerem que um aumento da atividade econômica está próximo", registra o documento no trecho que analisa a América Latina.

A média de crescimento mundial para 2007 e 2008 é 4,9%. Não houve revisão da perspectiva citada pelo FMI no último relatório em setembro. Este ano, os vizinhos do Brasil devem ter crescimento menor, pela previsão do FMI: 7,5% na economia argentina, 6,2% entre os venezuelanos e 6% para os peruanos. A nova estimativa do FMI para o Brasil é semelhante àquela apresentada pelo governo federal durante o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro.

A previsão do governo é crescer 4,5% em 2007 e 5% a partir do ano que vem, mantendo o ritmo até 2010, no final do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006. Com o novo método de cálculo adotado, o crescimento da economia do país passou de 2,9% para 3,7% e atingiu R$ 2,3 trilhões. Fonrte: Radiobrás.

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL OFERECERÁ 60 MIL VAGOS EM CURSOS SUPERIORES

O Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), do governo federal, vai disponibilizar 60 mil vagas este ano em cursos superiores na modalidade de educação a distância (EAD), priorizando a formação inicial e continuada de professores da educação básica, que poderão escolher entre uma variedade de 90 opções de cursos públicos e gratuitos.

O programa já tem 290 pólos de apoio presencial iniciando suas atividades neste ano em 289 municípios, distribuídos em todos os estados do País. Os municípios que ainda não fazem parte do sistema UAB poderão encaminhar seus projetos de pólos municipais para o ensino a distância até o dia 20 de abril. As instituições públicas de ensino superior também têm o mesmo prazo para encaminhar suas propostas de cursos superiores, nos termos do edital, disponível no endereço eletrônico www.uab.mec.gov.br .

Segundo o Secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação, Ronaldo Mota, a intenção do governo federal é ampliar o sistema Universidade Aberta do Brasil. O programa tem como objetivo a democratização, expansão e interiorização da oferta de ensino público superior e gratuito no país, bem como o desenvolvimento de projetos de pesquisa e de metodologias inovadoras de ensino.

Para o segundo processo seletivo da UAB, algumas mudanças ocorreram em relação ao primeiro edital. As inscrições e o envio de projetos de proponentes, por exemplo, agora são feitas por meio eletrônico, em sistema da internet desenvolvido em parceria entre a SEED (Secretaria de Educação a Distância) e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Isso vai facilitar o trabalho dos proponentes e das equipes técnicas do Ministério da Educação.

Entre os cursos a distância, a prioridade está na formação inicial e continuada para os professores da educação básica. Uma das propostas é ministrar cursos que possam ajudar os professores a lidar com os preconceitos existentes em sala de aula. É o caso do programa Gênero e Diversidade na Escola, criado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Britânico, que será expandido para todo o Brasil por meio da Universidade Aberta do Brasil.

O programa já foi aplicado com 1.200 professores em cinco municípios e o sucesso da iniciativa foi comemorado pelos coordenadores da ação. "É um programa de especialização voltado para professores de quinta à oitava séries, com conteúdos de gênero, raça, etnia e orientação sexual", explicou a ministra Nilcéa Freire, titular da pasta da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

AGRONEGÓCIO BATE MAIS RECORDES E EXPORTA US$ 11,7 BILHÕES

As exportações brasileiras do agronegócio totalizaram o valor recorde de US$ 11,785 bilhões no primeiro trimestre deste ano, 20% acima dos três primeiros meses de 2006, quando as vendas do setor somaram US$ 9,795 bilhões. No acumulado de 2007, as importações chegaram a US$ 2,012 bilhões, um aumento de 33% em relação a igual período do ano anterior. Como conseqüência, o superávit do agronegócio nos três primeiros meses do ano foi de US$ 9,773 bilhões.

O resultado da balança comercial do agronegócio foi divulgado hoje (05/04) pela Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os setores que mais contribuíram para o aumento das exportações foram: carnes (de US$ 1,8 bilhão para US$ 2,4 bilhões, 32,2%); complexo sucroalcooleiro (US$ 1,1 bilhão para US$ 1,6 bilhão, 40%); café (US$ 722 milhões para US$ 946 milhões, 31%); e suco de frutas (US$ 321 milhões para US$ 539 milhões, 67,9%).

A SRI destacou ainda o crescimento, no trimestre, das exportações de maçãs (445%); milho (323%); álcool etílico (108%); couro bovino semi-acabado (100%); fumo não manufaturado (80%); carne de frango industrializada (74%); suco de laranja (70%); carne bovina in natura (54%); e açúcar refinado (45,9%). Os principais destinos dos produtos brasileiros foram os países do Oriente Médio, com aumento de 58%; da África, 33,6%; e União Européia, 31,6%.

Março – Com exportações de US$ 4,485 bilhões e importações de US$ 766 milhões, o superávit do agronegócio em março foi de US$ 3,718 bilhões. Na comparação com março de 2006, a exportações cresceram 12,8% e as importações 32,8%. Em valor absoluto, os setores que mais contribuíram para os aumentos das exportações no mês foram carnes (46,4%), sucos de frutas (58%), café (27,7%), fumo (57,8%), produtos florestais (5,3%) e frutas (59%).

De acordo com a SRI, as exportações de carnes geraram receitas de US$ 934 milhões, ante US$ 638 milhões obtidos em março do ano passado. Os embarques de carne bovina foram 33,6% acima do volume exportado em igual período de 2006, totalizando 125 mil toneladas.

Recuperação – No mês de março, o Mapa destaca ainda o aumento das exportações de carne suína e de frango, apesar do embargo da Rússia. No caso da carne de frango in natura houve um crescimento de 53% no valor exportado, saltando de US$ 238 milhões para US$ 364 milhões, resultado de um aumento de 33,6% no volume e 14% nos preços. As exportações de carne suína in natura apresentaram um aumento na receita de 97,6%, devido principalmente a um incremento na quantidade embarcada (79%).

No mês de março as exportações de carne suína e de frango acumuladas em 12 meses alcançaram, respectivamente, US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões. Apesar da recuperação, a Secretaria diz que “é importante observar que esses valores são em torno de 10% inferiores aos valores máximos já exportados pelos dois setores, que foram de US$ 1,126 bilhão no caso de carne suína, em novembro de 2005, antes do embargo da Rússia, e de US$ 3,406 de frango in natura, em fevereiro de 2006, antes do impacto da redução da demanda mundial, devido à ocorrência da gripe aviária na Ásia e na Europa”.

Açúcar e Álcool – Em março, em relação ao mesmo mês do ano anterior, o valor das exportações do setor sucroalcooleiro recuaram 9%, devido à queda de 19,5% no valor exportado de açúcar. O volume embarcado do produto caiu 17% e os preços foram 2% inferiores. Por outro lado, as vendas externas de álcool cresceram 54,4%, com 19,3% de aumento na quantidade embarcada e 29,4% de incremento no preço médio.

Acumulado – Nos 12 meses correspondentes ao período de abril de 2006 a março de 2007, as exportações brasileiras do agronegócio totalizaram US$ 51,414 bilhões, o que representou um aumento de 15,3% sobre o valor exportado no período anterior (abril de 2005 a março de 2006), que foi de US$ 44,598 bilhões, resultando num superávit comercial acumulado nos últimos 12 meses de US$ 44,210 bilhões.

Ministério da Agricultura

DE VOLTA PARA O FUTURO

Com Evo, Chávez, Bachelet, Lula e Kirchner, o cenário ideológico latino-americano ficou repleto de idéias. Podem dar certo ou errado, mas não há como impugná-las por serem antigas. Elas tem raízes na história da região, e não se pode dizer que fracassaram, já que sempre foram interrompidas pelos golpes da direita liberal.

Chama a atenção a ira dos conservadores. Mas também chama a atenção o desconcerto e a crítica da esquerda ao comportamento e às posições dos novos presidentes sul-americanos, em particular, da Venezuela, Bolívia e do Equador. No caso dos conservadores, por razões óbvias, de interesse imediato, mas no caso da esquerda, por motivos menos explícitos, e com argumentos mais sinuosos, que em geral escondem um preconceito profundo contra estes novos líderes indígenas, sindicalistas ou soldados que não conhecem o manual das boas maneiras, do “esquerdista perfeito”. Quase todos estes intelectuais já gostaram dos personagens e enredos fantásticos de Alejo Carpentier, Garcia Marques, Vargas Llosa, mas muito poucos conseguem entender e se relacionar com o mundo real das sociedades hispano-indígenas, e com seus líderes que não são iluministas, nem intelectuais de salão. De qualquer maneira, durante os primeiros anos, todas as divergências e críticas pareciam reduzir-se a um problema de excentricidades pessoais. Até ali, os novos governos de esquerda da América do Sul pareciam condenados à mesmice, como se todos fossem prisioneiros perpétuos da “verdade científica” da economia neoclássica, e da “modernidade inevitável” das reformas neoliberais.

A origem deste pesadelo é bem conhecida: na década de 90, as teses neoclássicas e as propostas neoliberais se transformaram no senso comum dos governos, e de uma boa parte da intelectualidade sul-americana. Foram os “anos dourados” das privatizações, da desregulação dos mercados, e da crença no fim das fronteiras e na utopia da globalização. Mas mesmo depois das derrotas dos neoliberais, os novos governos de esquerda, recém eleitos, mantiveram o mesmo “modelo econômico”. Eles não tinham objetivos estratégicos próprios e sua política econômica seguia sendo a mesma dos governos anteriores. Mas este quadro começou a mudar depois das nacionalizações do governo de Evo Morales. Num primeiro momento, pareciam medidas pontuais e indispensáveis à fragilidade fiscal do governo boliviano. Mas, depois, foi ficando claro que se tratava de uma ruptura mais profunda e estratégica com o passado neoliberal da Bolívia, e um anúncio do novo projeto de “socialismo do século XXI”, que seria proposto, uns meses depois, pelo presidente Hugo Chávez, da Venezuela. E eis que, de repente, não mais que de repente, acabou a mesmice, e rompeu-se a “concertação por antagonismo” entre a “mão invisível” neoliberal e a “esquerda pasmada”. Goste-se ou não, foi assim que ressurgiu, na América do Sul, a palavra e o projeto socialista, e depois disto, ao contrário do que muitos previam, a esquerda não se dividiu. Pelo contrário, clarificou a sua diversidade interna, e explicitou a multiplicidade dos seus caminhos sul-americanos. Como se pode ver, por exemplo:

i) no caso do projeto “socioliberal”, do governo chileno de Michelle Bachelet, que vem modificando gradualmente o modelo econômico ortodoxo das últimas décadas, mas ainda se mantém muito distante do projeto socialista do governo de Salvador Allende. Assim mesmo, é cada vez maior o seu parentesco com as políticas da Frente Popular, que governou o Chile, entre 1936 e 1948, com o apoio dos socialistas, radicais e comunistas, privilegiando as políticas de universalização “com qualidade” dos serviços públicos universais de saúde e educação.

ii) no caso do projeto de “new deal keynesiano”, do governo argentino de Nestor Kirchner, cada vez mais distante do “modelo econômico” do governo Menem. Depois da moratória argentina, o presidente Kirchner redefiniu suas relações com a “comunidade financeira internacional”, e transformou em prioridade absoluta do seu governo a criação de empregos e a recuperação da massa salarial da população argentina, utilizando-se da formula clássica da social-democracia européia da “concertação social” para conter a inflação. Além disto, voltou a proteger a indústria, estatizou vários serviços públicos e lançou, recentemente, um programa de reestatização opcional da própria Previdência Social.

iii) no caso do projeto de “socialismo do século XXI”, anunciado pelo presidente Hugo Chávez, e apoiado pelos governos da Bolívia e Equador, retomam-se idéias e políticas que vêm da Revolução Mexicana e que fizeram parte dos programas de vários governos revolucionários ou nacionalistas do continente, culminando com a experiência de “transição democrática ao socialismo” do governo de Salvador Allende, no início da década de 70. Em todos os casos, o ponto central foi o mesmo: a criação de um núcleo produtivo estatal com capacidade estratégica de liderar o desenvolvimento do país, na perspectiva da construção de uma sociedade mais igualitária. Uma espécie de “capitalismo organizado de Estado”, onde convivam o grande capital estatal e o privado, com as pequenas cooperativas da economia indígena, dentro de um sistema comunal de participação democrática.

iv) por fim, no caso do “desenvolvimentismo com inclusão social”, do segundo governo Lula, suas primeiras medidas e propostas são muito claras: seu objetivo estratégico não é construir o socialismo, é “destravar o capitalismo” brasileiro, para que ele alcance altas taxas de crescimento capazes de criar empregos e aumentar os salários de forma sustentada, fortalecendo a capacidade fiscal de investimento e proteção social do Estado brasileiro. Com este objetivo, o governo Lula está retomando o velho projeto desenvolvimentista que remonta à década de 30, e que só foi interrompido nos anos 90. Mas, ao mesmo tempo, está querendo criar uma vontade política através de uma grande coalizão social e econômica que reúna as várias vertentes do desenvolvimentismo brasileiro, conservadoras e progressistas, que estiveram separadas durante a ditadura militar.

Resumindo: a ira e o desencanto dos liberais de direita e de esquerda tem sua razão de ser. De repente tudo mudou, e o cenário ideológico latino-americano ficou diversificado e repleto de idéias e propostas. Podem dar certo ou errado, mas não há como impugná-las, como vem acontecendo, pelo simples fato de serem projetos antigos. Todas tem raízes profundas na história latino-americana , e não se pode dizer que fracassaram, porque sempre foram interrompidas pelos golpes da direita liberal.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.